A ditadura dos algoritmos
Vivemos em um tempo bastante peculiar na história humana, o qual é marcado por crescente pressão por liberdade de expressão e, ao mesmo tempo, de forte onipresença das plataformas de redes sociais em nossas vidas.
Além disso, curiosamente, enquanto inúmeras pessoas desfrutam de enorme satisfação em expor e compartilhar cada momento de suas vidas nas redes sociais, muitas outras clamam por mais privacidade.
No entanto, ambos grupos de usuários fazem parte exatamente da mesma poderosa e altamente lucrativa moeda que movimenta as engrenagens (ou melhor dizendo, os algoritmos) das plataformas de redes sociais.
Isso porque, sabe-se já há bastante tempo, que a espinha dorsal do modelo de negócios de todas as plataformas de redes sociais é composta pelas informações pessoais fornecidas voluntariamente por seus usuários.
Esse conjunto de informações continua sendo propriedade dos usuários, mas são gerenciadas pelas plataformas com o objetivo de apresentar-lhes conteúdos de forma incessante e, acima de tudo, expor-lhes incontáveis anúncios publicitários. Assim, como a base de usuários ativos dessas plataformas é gigantesco, elas auferem receitas milionárias através da veiculação dos anúncios.
Em linhas gerais, é assim que elas funcionam e é por esse motivo que essas ferramentas são disponibilizadas de forma gratuita. Na verdade, como se diz em economia, não existe almoço de graça e se, porventura, este almoço está sendo oferecido de graça, significa que você é o “prato principal”, ou o produto.
Dessa forma, as corporações disponibilizam as plataformas gratuitamente justamente porque elas estão interessadas na obtenção voluntária de seus dados pessoais e, através deles, auferirem receitas milionárias.
Agora, dito isso e refletindo mais detalhadamente sobre os temas de liberdade de expressão, liberdade de escolha e privacidade, noto a existência de um certo paradoxo muito sutil que chamo de “ditadura dos algoritmos”.
Realizei um pequeno experimento não-científico carregando cinco páginas do YouTube com um total de 2.500–2.600 sugestões de vídeos (isto é, rolando cada página dezenas de vezes). Desse total, identifiquei que 61% deles não correspondem a escolhas feitas diretamente por mim ou minimamente relacionadas com vídeos anteriormente por mim assistidos.
Ou seja, eles me foram apresentados pela plataforma e, de alguma forma, seus algoritmos entenderam que aquele conteúdo pudesse ser do meu interesse ou alinhado ao meu perfil.
Esse cenário me suscita o seguinte questionamento: quem está no controle com relação ao conteúdo das redes sociais? Os usuários ou as corporações?
Com base nesse experimento que conduzi, tudo sugere que o controle está muito mais nas mãos das empresas do que dos usuários.
Além disso, curiosamente, repeti o experimento em um computador diferente e, sem estar conectado à minha conta, para avaliar se os resultados seriam distintos.
Porém, mesmo assim, a maioria dos resultados (67% deles) não guardavam nenhuma convergência com minhas buscas precedentes.
Diante desses resultados, entendo que fica assim configurado o cenário de “ditadura dos algoritmos”, onde a plataforma define o que devemos assistir, quais conteúdos são relevantes para nós e quais podem ser ignorados, já que a maioria dos resultados apresentados não guardam estreita relação com os termos utilizados nas buscas.
Consequentemente, esse cenário revela também que a liberdade de escolha dos usuários não é tão completa assim como se imaginava, pois, na verdade, o conteúdo apresentado é direcionado e comandado pelas corporações. Elas é que escolhem e definem o que você vai ver, ler, ou assistir na internet. Isso, sem falar, é claro, que uma parcela muito expressiva do conteúdo que é exposto está direta ou indiretamente associado a anúncios publicitários, o que reforça a ideia de que você é o “produto”.